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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

Foto: ferocemarquise.org 

 

SARAH KÉRYNA
( FRANÇA )

 

Sarah Kéryna (nascida em 1972 em Aurillac, vive e trabalha em Marselha), poetisa , atriz formada, atriz de teatro com François-Michel Pesenti, Agnès del Amo, Danièle Bré, Claude Esnault, Franck Dimech, Huber Colas, anfitriã de oficinas de escrita em escolas, é autor de cerca de dez livros, publicados por Fidel Anthelme É publicada nas revistas de papel If , Nioques , Action Poétique , Dirigeable , Art-Matin , Camion , CCP , Monsieur Thérèse , LeCahier du Refuge , Aka , Fondcommun , Sarrazine , Zone Sensible , Carnavalesques , Ouste Teste , PLI e no revistas online Rotor , The Academy of Drafts , The Gazette of Camouflaged Jockeys , Asymptote .  

 

INIMIGO RUMOR- revista de poesia  - Número 20       Ano???     Editores: Carlito  Azevedo,  Augusto Massi. Rio de Janeiro, RJ:  Viveiros de Castro Editora,  ???  ISSN 1415-9767-00020   No. 01 180
Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

 

                  Tradução: Carlito Azevedo.

 

 TRÂNSITO

Em Nova York, 8 milhões de habitantes.
Em Paris, 5 milhões.
Em Londres, 7.
Em Buenos Aires, 13.  
No Cairo, 12.  
No México, 22.

Marselha:

Eles estão sentados um em frente ao outro.
Eles bebem cerveja.
Ele bate uma foto dela.

Ela diz:
“Já estamos no dia primeiro de julho”.
Ele responde:
“Daqui a três meses será outono!”

Mais tarde,
em frente ao Palais,
na calçada, ele a beija.

Na casa dela,
diante da janela,
ele a despe.

Lá fora,
o grito das gaivotas.
Ele pergunta:
“Que barulho é esse?”

Paris:

Eles nos telhados,
Eles contemplam a cidade.
Um homem, saído de uma abertura,
avança e se inclina para o pátio.

Nas ruas
ela se perde,
se engana de direção,
ela bebe.

Ele cospe no chão.
Ele veste um blusão negro.
Ele dirige velozmente.
Ele assiste ao futebol.

Eles caminham pelo cemitério de Monmartre,
debaixo da chuva.

Ele lhe diz: “Deixa pra lá”.

No trem, de volta, um homem diz:
“Vou beijar o chão de Marselha.”

Marselha:

Domingo. Dia tranquilo. Sempre vento.
Neve no Brasil, incêndios na Grécia,
tempestades no Canadá.,

O verão não existe.

É abril que recomeça ou outubro que avança.
Sonhei esta noite que enormes peixes carnívoros
haviam devastado a humanidade inteira.

*

Um avião se espatifou contra um prédio, 113 mortos.

Sua voz no telefone me pareceu estranha.
E nada restituía seu rosto.

Por que bebo rápido?
Para acabar e voltar para casa.

*

Encontrei O morro dos ventos uivantes no lixo,
versão original

Durmo sonhos de pedra insondáveis.

E Gérard Denoyan morreu.
E Claude Sautet morreu.

Ontem, ao despertar,
me dei conta de que não sabia
a tabuada de multiplicar.
Coloquei na cabeça que devia aprendê-la.
Impossível.

Encontrei um vestido rosa e azul.
Uso barretes combinando e braceletes
azul turquesa e rosa choque.

Fui seguida por um travesti exibicionista.

Por pouco não me afoguei.

Adoro as manhãs. Sair do banho, a música.
Passar creme sobre a pele, e perfumes.
E a loção para os cabelos. E escovar os dentes.
Lavar a louça. Varrer. Abrir espaços.
O aspirador e o rádio.
Jogar fora o lixo.
E o chá aromático.
As torradas, a manteiga e a geleia.

As gaivotas nos telhados. E as antenas.
Os aviões que passam.

Delicadeza de rumores que se desenrolam.

O vento move as cortinas que vão e vem,
se afundam na janela com movimentos
breves e compassados como os dos dançarinos.

 Uma ondulação.


tração compulsivas pelas bibliotecas.
Leituras intensivas.
Nunca gravo os títulos.
Nunca poderei ler tudo.
Se houvesse um livro feito para mim, e eu não o abrisse       
[jamais,
se eu passasse sempre ao largo?

.E esse recado que ele me mandou:

“Quanto tempo gasto a
pensar a
caminhar a
olhar a
escutar e a não
se dar conta de nada a
observar a
sentir, a dormir, a
se tocar a
pensar”.


Em Tóquio, 12 milhões de habitantes.
Em São Petersburgo, 5.
Em Hamburgo, w.
Em Buenos Aires, 13.

O quarto em semi-escuridão, dispo-me.
O braço erguido, vertical, alto, comprimem
meus seios entre dois lagares.
Ele diz: “Ato lá!”

O caroço enfiado sob minha pele.
Como ele fez para pressionar assim sem
que eu saiba?

A voz de A. ao telefone, tão clara, tão empostada.
Ela ri. Ela tem graça. E eu melhoro. Estou curada.
É uma luz.
Fui à praia. Fazia calor. Eu precisava nadar.             

 

                                       *

Domingo à noite, janelas abertas.
Sempre esse vento mistral soprando forte,
fazendo gemer as árvores.
Ao meu redor o céu, silêncio entrecortado
por murmúrios e sons de pássaros.
Rua afastada. As antenas. As gaivotas.

A roupa pendurada termina de secar.
E no alto a lua sinuosa.

E se aquilo fosse de fato o princípio de uma criança,
isso não me afetaria em nada, ao contrário,
ele podia desaparecer..

Em Shangai, 14 milhões de habitantes.
Em Manilha, 8.
Em Bagdá, 5.
Em Atenas, 3.
Em São Paulo, 15.

Entre Marselha e Nimes:

Eles são três dentro do carro.
À beira da estrada, uma refinaria.
O petróleo vem da Argélia.

Beaucaire:

E com seu bebê. Ela o segura no colo.
Ela diz: “e você ali assistindo a tudo, é meio forte demais
que isso saia de dentro de você. Você não aguentaria.
aguentaria.               Volto para casa como se a tivesse deixado na véspera.
Eles não mudaram apesar dos quinze anos que nos
[separam,
da última vez em que nos vimos.

De noite, fuma-se, fala-se.

E, sua sub-marinheiros do Koursk estão mortos.

 Irei ver meu irmão amanhã no Rayol?

A área do Rayol:



Um dia de calor escaldante.
O jardim botânico. Aléias, mirantes,
varandas, escadarias de quartzo.; O mar.
Cactos, agaves, plantas gigantes.
O carvalho centenário. Os vegetais brilhantes.
O cheiro do eucalipto, a poeira dos caminho
E a luz imóvel.


Ele diz que sonha que morremos os três em acidente
de carro.
Ele toma comprimidos. Ele ficou três dias delirando, tendo
alucinações em seu quarto, sem se mover.

Eles mergulham com uma máscara e um snorkel.
Na volta, o trem noturno está lotado.

Marselha:

O ônibus 83. A faixa azul do mar se desdobra subitamente,
refletindo uma grande luz.

As águas marulhantes ao pé dos rochedos.
A mansidão da água. O sol no rosto. E nadar, é tudo.

Há uma menina, russa provavelmente.
Ela está vestida com um roupa quente demais para a
[estação,
fora de moda.
Mais tarde, ela já está dentro a água.
Ela nada para a beira, depois retoma rumo ao longe,
[e assim sucessivamente,  inúmeras vezes, como se ela não fosse parar nunca mais.

                                          *

Na volta, no ônibus, uma mulher diz:
“Já viajei por todas as cidades da Europa e todas
as cidades do mundo. Nunca vi uma cidade tão suja  
como Marselha.”
Acidente de metrô na linha 12.
Pensei? “Está morto. Está feioto.”

Seis vezes sete quarenta e dois, para mim
isso será sempre uma abstração.

Trânsito: ação de passar por um lugar sem se demorar.
Passagem sem parada de um comboio sobre seções de
[vias sucessivas.

 E esse recado, dele:
“Teremos oportunidade de tirar outras fotos?”

*

Despertar em sangue.
Encharcava tudo, meus lençóis, minhas roupas.
Havia dele por toda a parte, no chão e sobre as portas.

*

Choveu o dia inteiro.
Trombas d´água.
As ruas pareciam torrentes.
Uma cortina de chuva, diante de minha janela.
Minha cozinha inundada, minha sala inundada.
A sirene dos bombeiros.
O dilúvio.

Agora a cidade seca ao sol.


Paris:

Paris, seus parques,
suas escadas em madeira envernizada,
os passos que rangem.
As portas escuras e laqueadas.
As mansardas.

As grandes avenidas.
A multidão.
O metrô.
Os números do código.
Os pátios internos.
As galerias.
Os museus.
As margens do Sena.
.As pontes.
Os bares.

“Meu Paris!”

*

Eles se encontram no bar, atrás da prefeitura.
Quando a vê, a mesma voz quando a chama.

Êles vão de um bar a outro.
Êles bebem cerveja.
Mais tarde, em frente à janela, ele diz:
“Dá para ver a Torre Eiffel”.

.Ele dorme de bruços. Respira como uma criança.

Ele fala de Tânger, de Montreal e da Índia.
De uma partida noturna para a Austrália, sobre o rio.
De um barco que virou.

Ele conta a história do arpão, inventado
ao mesmo tempo na África,
para caçar hipopótamos,
e no Polo Norte,
para caçar focas.

Ele tira fotos dele no deserto.

A única a quem amou,   
 e que não o amou,
tinha o mesmo nome que eu.

Ele conhece vinhas.
— Antes eu tremia.

Nas grandes cidades, as pessoas não têm lugar seu,
então eles se refugiam debaixo da terra e ali permanecem
emboscados.

 Rua Ordener, rua Labat, rua Cortine, rua Mercadet, rua
Ramey...

 Em Pequim, 11 milhões de habitantes.
Em Chicago, 8.
Em Istambul, 7.
Em Calcutá, 11.
Em Hong Kong, 6.
Em Bogotá, 5.


Marselha:

Mal pus os pés no chão, senti-me reviver.

Esse calor, essa embriaguez.
As varandas. Os rochedos brancos.
O mar ao redor.


O espaço.


Minha Marselhita!


Mistral e sol rumores de fora odores do campo.

8h20 da manhã. O céu azul. A umidade de fora.
O outono.

O verão passou sem jamais se instalar.       

Domingos calmo e tranquilo com o rádio.

—Eu vivo com o rádio.

 Guardei as mochilas.

 Faz frio.

Curvas de nível,
e pontos sobre elas.

Uma mancha enorme percorre o vale do Ganges.
Um ponto corresponde a 500 000 pessoas.

Transportes.
Redes.

Os fluxos.
As ondas.

Oleodutos, pipeline.

Os poços,
as jazidas,
as minas.

Os povoados.
As colônia.

 

 Os que chegam e os que partem.
Os que entram e os que saem.

Os deslocados, os que passam.

Eu tropeço.
Não me amparo em parte alguma.


Na casa de R., ainda há pouco, desembaracei-lhe os
[cabelos
com um pente e com os dedos, na cozinha.

 ANEMIA.

A chuva.

Caixas de comprimidos cor-de-rosa.

Condicionamento.

As fronteiras. As fieiras. As filiais.

SUPERDOSAGEM.
Eu vou beber litros de sangue cru.

Sonho com terras ferruginosas para me encolher
debaixo delas.

*

Coloquei em um canto do meu quarto, debaixo do
[ aquecedor,
meus trabalho de agora por não acha lugar para eles
[em nenhuma outra parte.
Reencontrei minha caneta hidrográfica violeta debaixo da
[cama como todas as coisas que eu perco.

 Gosto do silêncio e da tranquilidade dos domingos.

E Théodore Monod morreu.

Marselha:

Fui às compras. Enchi a geladeira. Arrumei a casa.
Troquei a roupa de cama. Meus cabelos estão limpos.
Meus dentes não tão brancos.
O trigo de Sainte-Barbe está semeado.

Ele diz que o sal oxida o ferro, porque é uma cidade
à beira-mar.

Vamos ao cinema.
Nas ruas, luzes de Natal.
Ele diz: “Daqui a sete meses completarei trinta anos.”

Suas mãos.
Sua  voz.
.Seus lábios.

Sua respiração na minha orelha.

No dia seguinte ele toma o trem.

Ficou comigo uma camiseta. Seu cheiro.

 O caroço enviesado na goela.
— Minha dor.

Tenho vinte e oito anos, a idade Scarlett O´Hara
no final de E o vento levou.
A idade de Egon Schiele quando morreu.

A idade da autora teatral, louca, que tinha o mesmo
[ nome
que eu e quase o mesmo sobrenome, quando se
[suicidou.

Dor de barriga.

A chuva cai.

*

Um pinheiro que gira e canta:
“I wish you a merru christmas, and a happy new
[year”.

À meia-noite, gritos.
Mensagens enviadas em celulares saturados.

M. tem a voz esgarçada.
Ela diz: “Eis um século de que não se verá o final”.
Em Los Angeles, 15 milhões de habitantes.
Em Montreal, 3.
Em Kabul, 1.
Em Berlim, 3.
Em Medellin, 2.

E Louis-René des Forêts morreu.

 Venelles:

Nevou no sul. Os flocos me maravilham.
A Sainte-Victoire à noite como um enorme fantasma
[ branco.
Esfregada, lavada a camiseta, deixada de molho,
[muito tempo, acabou.

Transitar: passar em trânsito.
Transir: ir para além, falecer.

    Leio sua carta enviada da Inglaterra,
recebida no dia dos namorados.

E Balthus morreu.
E Charles Trenet morreu.


Paris:

Eles estão sentados lado a lado,
na grama, ao sol. Eles não se tocam.
Ele lhe presenteia Petróleo de Pasolini.

Ele conta a história da criança morta apesar das
[preces.
Desde então, não acredita mais em Deus.

Não dá a mão.
Não estreita em seus braços.

Eles passam sobre as estações. Ela diz:
“Todos esses trilhos que partem para o norte me
[ deprimem.”
Uma tempestade estoura brutalmente. A chuva
[começa a cair como 
um bombardeio. Os passantes se precipitam para os
[prédios.

—Marselha é a luz, ela nunca viu aquela luz
em outra cidade.

No dia seguinte, ele toma o avião par encontrar
[a outra.

Sábado. Paris e chuva.
Ele olha a rua de baixo para cima.
Ela bebe.
No trem de volta, uma jovem pergunta
se o luar está vago, instala-se ao seu lado.

Elas conversam até Valence onda jovem desembarca.
Elas trocam telefones.

— Elas têm o mesmo nome.


Marselha:

O domingo com o rádio.
A ducha. Cuidar da casa.
A ordem e a calma.

Minhas flores, meu jardim.
Tudo está bem.

“Eles” podaram a minha figueira.

Achei minha pinça debaixo da cama como todas as
coisas que eu perco.

Uma gaivota passa na frente do sol, oculta-o por instante.
Sua sombra projetada atravessa o apartamento.

— Um pedaço de grito.

Comprei um raminho de junquilho.
Foi um bom dia.

E André du Bouchet morreu.
E René Dumont morreu.


Um lugar à beira-mar.
Em torno deles, falésias altíssima.
Areia a perder de vista.

Por mais longe que vá, a vista só encontra o mar,
e o céu, e a areia.

 Eles podem caminhar por muito tempo e correr,
se perder nessa
extensão sem limites.
Não há mais mar, nem céu, nem areia.

Só a imensidão.
:

 

                                         Um ponto
sobre o mapa.

 

*

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Página publicada em dezembro de 2023



 

 

 
 
 
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